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quinta-feira, 2 de maio de 2013

És Maçom? (uma fábula)

És Maçom? (uma fábula)

Contribuição enviada pelo Ir.'. Carlos A. Guimarães


Só me lembrava daquela forte dor no peito. Como viera eu parar aqui? O ambiente me era familiar. Já estivera aqui, mas quando?

Caminhava sem rumo. Pessoas desconhecidas passavam por mim, contudo, não tinha coragem de abordá-las.

Mas espere, que grupo seria aquele reunido e de terno preto?

Lógico! Não estariam indo e vindo de um enterro; hoje em dia é tão comum pessoas irem ao velório de roupa preta. É claro! São Irmãos!.

Aproximei-me do grupo. Ao me verem chegar interromperam a conversa.

Discretamente executei o S.’. de A.’., obtendo resposta.

A alegria tomou conta de mim. Estava entre amigos.

Identifiquei-me. perguntei ansioso o que estava acontecendo comigo.

Responderam-me com muito cuidado e fraternalmente. Havia desencarnado.

Fiquei assustado; e a minha família, os meus amigos, como estavam?

- Estão bem, não se preocupe; no devido tempo você os verá, responderam.

Ainda assustado, indaguei do motivo de suas vestes.

Estamos nos encaminhando ao nosso Templo Maçônico – foi a resposta.

- Templo Maçônico? Vocês têm um?

- Sim, claro. Por que não?

Senti-me mais à vontade, afinal sou um Grande Inspetor Geral e com certeza receberei as honras devidas ao meu Gr.’..

Pedi para acompanhá-los, no que fui atendido.

Ao fim da pequena caminhada divisei o Templo. Confesso que fiquei abismado. Sua imponência era enorme.

As colunas do pórtico, majestosas. Nunca vira nada igual. Imaginei grupos de Irmãos conversando animadamente, porem em tom respeitoso.

O que parecia o líder do grupo, que me acompanhava, chamou um Irmão que estava adiante:

- Irmão Exp.’.! Acompanhai o Irmão recém chegado e com ele aguarde.

Não entendi bem, afinal, tendo mostrado meus documentos, esperava, no mínimo, uma recepção calorosa. Talvez estejam preparando uma surpresa à minha entrada; para um Gr.’. 33 não poderia se esperar nada diferente.

Verifiquei que os Irmãos formavam o cortejo para entrada no Templo. À distância não pude ouvir o que diziam, contudo, uma luminosidade esplendorosa cercou a todos.

De tanta emoção não conseguia dizer nada. O tempo passou... Não pude medir quanto.

A porta do Templo se entreabriu e o Irmão M.’. de CCer.’., encaminhando-se a mim, comunicou que seria recebido. Ajeitei o paletó, estufei o peito, verifiquei se minhas comendas não estavam desleixadas e caminhei com ele.

Tremia um pouco, mas quem não o faria em tal circunstância? Respirei fundo e adentrei ritualisticamente ao Templo.

Estranho... Esperava encontrar luxuosidade esplendorosa, muito ouro e riqueza.

Verifiquei, rapidamente, no entanto, uma simplicidade muito grande.

Uma luz brilhante, vindo não sei de onde, iluminava o ambiente.

Cumprimentei o V.’. M.’. e os VVig.’. na forma usual. Ninguém se levantou à minha entrada. Mantinham-se calados, respeitosos.

Não sabia o que fazer. Aguardava ordens ... e elas vieram na voz firme do V.’. M.’., que, na forma de costume, me perguntou se eu sou maçom.

Reconhecendo a necessidade de tal formalidade em tais circunstâncias, aceitei respondê-lo e o fiz, também pela forma de costume.

Aguardei, seguro, a pergunta seguinte. Em seu lugar o V.’. M.’. dirigindo-se aos presentes, perguntou:

- Os IIr.’., aqui presentes, o reconhecem como Maçom?

Assustei-me. O que era isso? Por que tal pergunta?

O silêncio foi total.

Dirigindo-se a mim, o V.’. emendou:

- Meu caro Ir.’. visitante, os IIr.’. aqui presentes não o reconhecem como Maçom.

- Como não?! Disse eu. Não vêm as minhas insígnias? Não verificaram os meus documentos?

Sim, caro Ir.’., retrucou solenemente o V.’. M.’.. Contudo, não basta ter ingressado na Ordem, ter diplomas ou insígnias para ser um Maçom. É preciso, antes de tudo, ter construído o “seu Templo” e verificamos que tal não ocorreu com o Ir.’.. Observamos, ainda, que apesar de ter tido todas as oportunidades de estudo e de ter galgado ao mais alto dos GGr.’., não absorveu seus ensinamentos. Sua passagem pela Arte Real foi efêmera.

Não pude agüentar. Retruquei:

- Como efêmera? Vocês que tudo sabem não observaram minhas atitudes fraternas?

Fui interrompido.

- IIr.’., vejamos então sua defesa...

Automaticamente desenhou-se na parede algo parecido com uma tela imensa de televisão e, na imagem, reconheci-me junto a um grupo de IIr.’. tecendo comentários desairosos contra a administração de minha Loja. Era verdade.

Envergonhei-me. Tentei justificar, mas não encontrava argumentos. Lembrei-me, então, de minhas ações beneficentes. Indaguei-os sobre tal.

E mudando a imagem como se trocassem de canal, vi-me colocando a mão vazia no Tr.’. de B.’.. Era fato e, costumeiramente, o fazia, por achar que o óbolo não seria bem usado...

Por não ter o que argumentar; calei-me e lágrimas de remorso brotaram-me nos olhos. Iniciei a retirar-me, cabisbaixo e estanquei ao ouvir a voz autoritária e, ao mesmo tempo, fraterna do V.’..

- Meu Ir.’., reconhecemos suas falhas quando no orbe terrestre e na Maçonaria. Contudo, reconhecemos, também, que o Ir.’. foi iniciado em nossos Augustos Mistérios. Prometemos, em suas iniciações, protegê-lo, e o faremos. O Ir.’. terá a oportunidade de consertar seus erros. Afinal, todos nós aqui presentes já os cometemos um dia. Descanse neste plano o tempo necessário e, ao voltar à matéria, para novas experiências, nós o encaminharemos para a Ordem Maçônica. Sua nova caminhada, com certeza, será mais promissora e útil.

Saí decepcionado, mas estranhamente aliviado.

Aquelas palavras parecem ter me tirado um grande peso. Com certeza, ali eu desbastara um pedaço de minha P.’. B.’..

Acordei, sobressaltado e suando. Meu coração, disparado. Levantei-me assustado, mas com certa alegria no peito. Havia sonhado!!

Dirigi-me ao guarda-roupas. Meu terno ali estava.

Instintivamente retirei do paletó as medalhas e insígnias e as guardei em uma caixa.
Ainda emocionado, e com os olhos molhados de lágrimas, dirigi-me à minha mesa e com as mãos trêmulas e cheio de uma alegria enleante, retirei o Ritual de Ap.’. Maç.’..


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