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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Beleza do Idioma


A língua portuguesa, como última flor do Lácio, evolui e se entranha na árvore dos idiomas que sofre, com o tempo, o envelhecimento em virtude do rejuvenescimento da beleza e da cultura do nosso Latim em pó. Baseada nessa ideia, a escritora Patrícia Secco propôs reescrever Machado de Assis em Linguagem acessível e atual. No entanto, isso pode desconfigurar a arte do escritor e desfavorecer o estudo da língua.

Essa reescrita incentiva ler sem refletir, pois requer previamente a reflexão do "tradutor". Dessa maneira, o texto se torna triplamente subjetivo - experiências de Machado, Patrícia e do leitor - assim, com três interpretações a analisar, a leitura atenta aos detalhes Machadianos é dificultada, favorecendo-se então a incauta que absorve Patrícia sem Assis nem visão crítica do leitor.

A dificuldade e o possível viés provenientes dessa nova versão levam à redução do estudo aprofundado da beleza do Português - extrapolando-se o caso, uma simplificação de Olavo Bilac acabaria completamente com o propósito de uma escola literária. O desestímulo do estudo do Parnasianismo por meio da reescrita, por exemplo, não permitiria às próximas gerações amarem a língua assim, desconhecida e obscura.

Nessa visão, a literatura seria menos estudada e mais deturpada, com leitores cada vez menos críticos, frutos da versão doce e agradável do nosso rude e doloroso idioma. A beleza da linguagem não está na flor nem nas Raízes do Lácio, mas nos ramos de nós sem fim que unem o presente falado ao passado escrito da língua.


Renan de Luca Avila

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