
Essa reescrita incentiva ler sem refletir, pois requer previamente a reflexão do "tradutor". Dessa maneira, o texto se torna triplamente subjetivo - experiências de Machado, Patrícia e do leitor - assim, com três interpretações a analisar, a leitura atenta aos detalhes Machadianos é dificultada, favorecendo-se então a incauta que absorve Patrícia sem Assis nem visão crítica do leitor.
A dificuldade e o possível viés provenientes dessa nova versão levam à redução do estudo aprofundado da beleza do Português - extrapolando-se o caso, uma simplificação de Olavo Bilac acabaria completamente com o propósito de uma escola literária. O desestímulo do estudo do Parnasianismo por meio da reescrita, por exemplo, não permitiria às próximas gerações amarem a língua assim, desconhecida e obscura.
Nessa visão, a literatura seria menos estudada e mais deturpada, com leitores cada vez menos críticos, frutos da versão doce e agradável do nosso rude e doloroso idioma. A beleza da linguagem não está na flor nem nas Raízes do Lácio, mas nos ramos de nós sem fim que unem o presente falado ao passado escrito da língua.
Renan de Luca Avila
Nenhum comentário:
Postar um comentário