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sábado, 9 de novembro de 2013

MANIFESTO DO NADA NA TERRA DO NUNCA

LOBÃO, OU TUDO AQUILO QUE A ESQUERDA DE BUTIQUE ESCANDALIZA-SE AO LER (SE É QUE ELA LÊ ALGO )
Creomar Baptista
 

A ignorância é a raiz do sofrimento e livrar-se dela a suprema conquista do indivíduo. Mas, no Brasil, o gigantesco sistema de cerceamento do pensar meticulosamente implantado ao longo de mais de quatro décadas instalou-se confortavelmente nos “aparelhos ideológicos de Estado” (termo do pseudo-filósofo francês Louis Althusser que designa instituições de ensino, religiões, mídia etc) praticamente impedindo que qualquer um – ao longo de seu ciclo de vida – incline-se a expressar o mais tímido ponto de vista que “fira” normas tácitas do “pensamento correto”.

Por “pensamento correto” não se pressupõe algum tipo de disciplina mental budista, mas os cânones estabelecidos pelos “intelectuais” engastados em departamentos bolorentos das faculdades de ciências humanas ou congêneres, na mídia e virtualmente no conjunto de setores da sociedade que - nas sábias palavras de Olavo de Carvalho - corporificam o “Imbecil Coletivo”, o agrupamento de pessoas que se reúnem para imbecilizar-se umas às outras. Para este ente endemoninhado, tudo que o que não possa ser confirmado pelo testemunho unânime da “intelligentzia” não existe.

Para horror do contingente de autômatos que só conseguem em sua aterradora estultice repetir “ad nauseam” as elocubrações dos representantes de ativistas políticos travestidos de donos da razão (seguindo um espírito de manada), um número crescente de autores tem investido com audácia contra os lugares comuns cultivados pelo “imbecil coletivo”, fazendo coro com a nova geração que inunda as redes sociais a proclamar aos quatro ventos saudável aversão à manipulação ideológica que a esquerda marxista (ou aquela que pinta as unhas gatunas de “tintas” mais “modernas) impõe em sua esfera cativa (escola, universidade e mídia).

Ícones da "gauche" tradicional como Che Guevara, Lênin, Mao e Fidel Castro são apequenados ao ponto de travestir-se em cômicos palhaços circenses através de montagens engraçadíssimas de Photoshop inseridas em páginas do Facebook (que propagam mensagens de forte questionamento à doutrinação marxista no âmbito do “ensino”), sendo quase impossível rejeitar a impressão de que, finalmente, as coisas começam a mudar no Brasil. Esta percepção foi reforçada pelo retumbante movimento de massas que sacudiu as principais cidades do país entre junho e julho de 2013, inicialmente capitaneado por ONG's dirigidas por facções esquerdistas mas que, no calor dos protestos, assumiram conotação independente e conservadora no que este termo tem de autêntico e válido.

Nesta atmosfera de renovação louvamos - ainda que tardiamente - o lançamento do “Manifesto do Nada na Terra do Nunca” (Editora Record, 2013), obra do cantor, compositor, multi-instrumentista, editor e apresentador de TV João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão. Diante do torvelinho de revivificante e corajosa rebeldia que assombrou o Brasil neste ano de 2013, nosso "revolucionário" (no sentido emprestado por Julius Evola à "revolução", uma ação que visa eliminar uma nova desordem emergente; restabelecendo um estado de normalidade) verbera a leviandade que permeia todas as camadas da sociedade brasileira, ecoando sem reticências a severa negação do “status quo” traduzido na hegemonia de uma "nova "cultura” e um novo corpo de supostos valores entronizados pela militância gramsciana em sua lenta e tenaz caminhada rumo à hegemonia, o poder onipresente e invisível.

Semelhante quadro de “hipnose coletiva” deriva da falsificação da história produzida pelos agentes da “proletkult” (“cultura proletária”, termo usado pelo ideólogo marxista Bogdanov nos primórdios da revolução de 17 na Rússia) tupiniquim nas salas de aula pois, como diz Lobão, “não nos ensinam história: nos ensinam a história oficial que o marxismo cultural dita, que o governo atual dita. Os livros de história brasileira são, em sua grande maioria, pura ficção ideológica, e isso não nasceu no governo atual. Já vem do final dos anos 1960, quando a gente aprendia, junto com aquele monte de hino, a cantar a o cancioneiro da nossa MPB subversiva nas aulas de moral e cívica (matéria implementada pelo governo militar”. (2)

E, coitado daquele desavisado que ousasse resistir aos Doutores Mabuse de ocasião (o vilão ilusionista da série homônima de Fritz Lange na República Weimar) que encerram nosso povo desde a mais tenra idade na redoma da "matrix" superestrutural. Sofreria, com certeza, nas mãos do típico esquerdista abobalhado (este cara que gosta da tal MPB artificialmente fabricada e se deleita com os reformadores/destruidores culturais de todos os matizes), vestido com o figurino da malandragem bem tropical e que pode ser definido nos seguintes termos: "(...) nessa maneira singular de encarar a vida, nasce uma espécie muito peculiar que reina na nossa terra, patrulhando incautos e dando carteirada nos descontentes, filha de um marxismo guarani-kaiowá de butique, uma espécie que, apesar de sua aparente e impositiva festividade carnavalesca, é a encarnação vívida da ofensa, da obtusidade e do recalque: o carola estatizado”. (3).

E o que aconteceria com quem se recusasse a jogar o "follow the leader", não seguisse a turma do barulho? Quanto a isto Lobão é taxativo: “Se você não aderisse imediatamente era taxado de reacionário, alienado, entreguista, burro e, pior, o golpe de misericórdia na libido em delírio de qualquer menina em plena ebulição testosterônica: “NÃO CONSEGUIRIA COMER NINGUÉM”.(4)

A cultura (ou que pode restar dela) é o epicentro da discussão travada por Lobão com inegável acuro, o teatro de guerra onde o “Reichswer” (exército do “Reich” alemão) ou, melhor, a “Leibstandarte SS” mancunada com o Konsomol ("Juventude Comunista") terceiro-mundista dos ideólogos patrulhadores tupiniquins leva a cabo sua “blitzkrieg” genocida. E por falar em “restos culturais”, supor que ainda soçobram alguns neste país é ser generoso à beça porque - como pontifica impiedosamente o filósofo Olavo de Carvalho em muitos dos seus textos, o Brasil é um país cuja alta cultura foi aniquilada, bem como a função expressiva da linguagem e a religião (na melhor das hipóteses, seriamente comprometida), os três dos fatores imprescindíveis à civilização.

Pelo mérito de unir-se ao clamor popular por uma renovação que suplante o terreno da representação político-partidária e o saneamento das instituições, o que Lobão nos legou em seu “Manifesto” é uma joia rara no semiárido de ideias do Brasil, a continental e inóspita caatinga afligida por calamidade ainda mais terrível que a seca: a burrice premeditada e maquiavelicamente ampliada. E seguindo os passos do Lobão, cremos que o leitor ao adquirir o volume terá a mesmo sensação que se apossou de mim ao lê-lo:

“(...) lá vamos nós adentrando um atoleiro de miséria criativa, de indigência intelectual, filosófica e cultural, nos atendo a nivelar todos por baixo, a cultivar a ideia de que o pobre é o grande, o original, o único produtor relevante de cultura no Brasil. O estudante universitário branco apenas copia, e muito mal, essas manifestações, sejam elas no campo ou na favela, tornando a nossa paisagem musical um pesadelo desbotado”. (5)

Referências: (1) p. 49; (2) p. 36; (3) p.24; (4) p.39; (5 p.46.

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