Publicado por Luiz Flávio Gomes
Platão (427-347 a.
C.) sustentou como padrão ético e político a “ideia do Bem”, que exige do ser
humano uma preparação longa e cuidadosa, distanciada da noção de Deus. Esse
caminho longo requer (especialmente do filósofo) o conhecimento da aritmética à
geometria, da geometria à astronomia, da matemática à dialética. É a lógica e a
política, comandada pela tríade Logos, Nomos e Taxis (razão, legalidade e
ordem), no lugar do místico. O Estado legal (que busca o valor justiça) não
pode ser um mito, sim, tem que ser ético. O Estado e a ética não podem viver
das tradições (do eterno passado).
Santo Agostinho
(354-430) encurtou o caminho: o único repouso verdadeiro para o homem (ético,
sobretudo), é o repouso em Deus. “Nossos corações estão inquietos até encontrarem
repouso em ti. Feliz é o homem que O conhece, embora possa não conhecer mais
nada”. Para alcançar a “ideia do Bem” (da ética) Platão imaginou um caminho
longo. Santo Agostinho traçou uma via expressa, uma via rápida. A revelação de
Deus ensina a melhor vida e é mais segura. O bem que deve ser desejado pela
alma não é aquele que ascendemos pelo juízo (pela razão), sim, aquele ao qual
nos unimos pelo amor, que é Deus (Cassirer: 2003, p. 105).
A moral iluminista
(séculos XVII e XVIII) está centrada no respeito ao indivíduo (à sua dignidade)
bem como na garantia dos direitos humanos (naturais), direitos que são
anteriores a toda organização social (como dizia Locke), que devem ser
respeitados (pelo Estado): liberdade de consciência, de expressão, de imprensa,
direito de propriedade etc. (tudo isso ao alcance de todos os homens). Das
“trevas da ignorância e do misticismo” (medieval) à autonomia da razão, do
pensamento cartesiano (“Penso, logo existo”), que é fonte de progresso
material, intelectual e moral. Da visão teocêntrica à concepção
antropocêntrica: é a substituição da fé pela razão. Confundia-se (na Idade
Média católica) a ética com a religião. O “homem moral é o homem que teme a
Deus”. O Iluminismo afasta a moral (humana e terrena) da religião (isso se chama
secularização).
O pensamento
iluminista foi apoderado pela burguesia ascendente, logo, pelo capitalismo (que
derrotou todos os outros “ismos”: comunismo, socialismo, fascismo etc.). O
capitalismo, depois da Segunda Guerra Mundial, difundiu para o mundo todo (via
globalização) a “ética do consumismo”. Os velhos valores do esforço, da
conquista, da luta, da espera, foram todos substituídos pelo prazer momentâneo.
Foi assim que os shoppings centers se transformaram em templos do prazer. É
neles que os jovens fazem seus “rolezinhos”, não para discutir Platão, Ética, a
herança do Iluminismo etc. Nada disso. Eles não acreditam em mais nada além do
consumo imediato. Mas ocorre que para consumir é preciso produzir e para
produzir é preciso ter preparação cultural, científica e técnica (competências
e habilidades). Aqui está o problema, não somente dos “rolezeiros”, sim, do
próprio capitalismo extrativista, atrasado, que difunde o ignorantismo (e que
não tem nada a ver com o elogiável capitalismo evoluído e distributivo, fundado
na educação de qualidade universalizada, tal como praticado na Dinamarca,
Noruega, Canadá, Japão etc.).
Luiz Flávio Gomes*
São Paulo (SP)
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*Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).
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