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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

SHOPPING CENTERS: TEMPLOS NOSSOS DE CADA DIA

Publicado por Luiz Flávio Gomes
Platão (427-347 a. C.) sustentou como padrão ético e político a “ideia do Bem”, que exige do ser humano uma preparação longa e cuidadosa, distanciada da noção de Deus. Esse caminho longo requer (especialmente do filósofo) o conhecimento da aritmética à geometria, da geometria à astronomia, da matemática à dialética. É a lógica e a política, comandada pela tríade Logos, Nomos e Taxis (razão, legalidade e ordem), no lugar do místico. O Estado legal (que busca o valor justiça) não pode ser um mito, sim, tem que ser ético. O Estado e a ética não podem viver das tradições (do eterno passado).
Santo Agostinho (354-430) encurtou o caminho: o único repouso verdadeiro para o homem (ético, sobretudo), é o repouso em Deus. “Nossos corações estão inquietos até encontrarem repouso em ti. Feliz é o homem que O conhece, embora possa não conhecer mais nada”. Para alcançar a “ideia do Bem” (da ética) Platão imaginou um caminho longo. Santo Agostinho traçou uma via expressa, uma via rápida. A revelação de Deus ensina a melhor vida e é mais segura. O bem que deve ser desejado pela alma não é aquele que ascendemos pelo juízo (pela razão), sim, aquele ao qual nos unimos pelo amor, que é Deus (Cassirer: 2003, p. 105).
A moral iluminista (séculos XVII e XVIII) está centrada no respeito ao indivíduo (à sua dignidade) bem como na garantia dos direitos humanos (naturais), direitos que são anteriores a toda organização social (como dizia Locke), que devem ser respeitados (pelo Estado): liberdade de consciência, de expressão, de imprensa, direito de propriedade etc. (tudo isso ao alcance de todos os homens). Das “trevas da ignorância e do misticismo” (medieval) à autonomia da razão, do pensamento cartesiano (“Penso, logo existo”), que é fonte de progresso material, intelectual e moral. Da visão teocêntrica à concepção antropocêntrica: é a substituição da fé pela razão. Confundia-se (na Idade Média católica) a ética com a religião. O “homem moral é o homem que teme a Deus”. O Iluminismo afasta a moral (humana e terrena) da religião (isso se chama secularização).
O pensamento iluminista foi apoderado pela burguesia ascendente, logo, pelo capitalismo (que derrotou todos os outros “ismos”: comunismo, socialismo, fascismo etc.). O capitalismo, depois da Segunda Guerra Mundial, difundiu para o mundo todo (via globalização) a “ética do consumismo”. Os velhos valores do esforço, da conquista, da luta, da espera, foram todos substituídos pelo prazer momentâneo. Foi assim que os shoppings centers se transformaram em templos do prazer. É neles que os jovens fazem seus “rolezinhos”, não para discutir Platão, Ética, a herança do Iluminismo etc. Nada disso. Eles não acreditam em mais nada além do consumo imediato. Mas ocorre que para consumir é preciso produzir e para produzir é preciso ter preparação cultural, científica e técnica (competências e habilidades). Aqui está o problema, não somente dos “rolezeiros”, sim, do próprio capitalismo extrativista, atrasado, que difunde o ignorantismo (e que não tem nada a ver com o elogiável capitalismo evoluído e distributivo, fundado na educação de qualidade universalizada, tal como praticado na Dinamarca, Noruega, Canadá, Japão etc.).
Luiz Flávio Gomes*
São Paulo (SP)

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*Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).
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