“Nunca digas: por que foram os dias passados melhores do que estes? “ Eclesiastes,7:10
Vários temas a respeito de aposentadoria já foram abordados em textos anteriores. De fato, o tempo parece ficar maior sem a obrigação do trabalho e é preciso aproveitá-lo. Vamos dirigir algumas palavras para aqueles que não se prepararam para essa nova fase da vida, sem a antiga ocupação, que sempre preenchia a maior parte das suas horas.
Há diversas situações em que se chega até a maldizer essa fase: “Finalmente veio o tempo da aposentadoria e não sei o que fazer”. Já no Eclesiastes, 7:10 está escrito: “Nunca digas: por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque nunca com sabedoria isso perguntarias”.
Algumas respostas a essas questões podem ser encontradas num livro recente, “Cem coisas para fazer (antes de morrer)” Ed. Melhoramentos. No início, a leitura dessa obra parece um pouco piegas, na linha de autoajuda, mas à medida que lemos, observamos que há muita sabedoria no conteúdo. Os dois jovens autores (Michael Ogden e Chris Day) selecionaram cem relatos de experiências vividas por pessoas das mais diversas idades, contando como puderam realizar seus sonhos mais acalentados.
Os autores questionam: “Talvez fosse melhor deixar para avaliar a vida no momento em que estivermos velhos e enrugados, rodeados por uma família ansiosa para ouvir pérolas de sabedoria que recolhemos ao longo da vida. Mas, tendo em vista que todos nós vamos partir um dia destes, e que nenhum de nós sabe exatamente quando, essa é uma questão para se considerar, ainda que seja apenas para confirmar que estamos indo na direção certa”.
Após a aposentadoria, o indivíduo pode se permitir um certo distanciamento da vida cotidiana. Assim, é possível refletir sobre o que se fez no passado, o que se está ou não fazendo no presente e, ao mesmo tempo, sentir o que falta fazer para amanhã cedo, por exemplo.
A pessoa deve se aceitar como é: excêntrica, otimista, atenciosa, saudosista, briguenta. Não precisa tentar mudar a personalidade, desde que mantenha os pés no chão. A realidade tem que estar presente, sem fantasias exageradas, como viajar como turista para Marte (por enquanto). É saudável manter uma certa ambição, desde que se pense nas consequências.
Uma ideia interessante é registrar num papel as prioridades, preferências e desejos não realizados, mas possivelmente viáveis. Uma coisa simples, como por a camisa fora da calça, pode ser uma nova conquista, que no passado, a pessoa jamais se permitiu. Outros programas para a nova fase da vida podem ser: reencontrar amigos de infância, comunicar-se com um antigo professor, pesquisar as origens da família. Muitas vezes um objeto de estimação está escondido, guardado no fundo de um armário. Ele pode ser redescoberto e colocado num lugar de destaque.
O importante é não bloquear a mente com a possibilidade de fracasso, buscando sempre novas experiências e criatividade, como mudar o caminho habitual de ir e vir para casa. Não importa o que os outros possam pensar. Surpreenda-se a si mesmo com a alegria proporcionada por serviços à comunidade. Depois de algum tempo, a vida se tornará mais rica, apesar de algumas tentativas não serem bem sucedidas. Mas outros caminhos abertos compensarão essa luta. É preciso aproveitar, enquanto possível.
Luiz Freitag
Médico Geriatra
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