Páginas

domingo, 15 de setembro de 2013

HISTÓRIA MAÇÔNICA COMPROVADA: BOCAGE E O Dr. MACACO

SONETO MAÇÔNICO
Manuel Maria Barbosa du Bocage
 
 
Conta-se que Bocage se iniciou numa Loja Maçônica*** de Lisboa cujo venerável era Bento Pereira do Carmo e orador José Joaquim Ferreira de Moura, deputados às Cortes de 1821 e 1823.

Assistiu durante algum tempo às reuniões da Loja, mas um dia entrou em ruptura com um irmão e em cólera escreveu este soneto que rasgou, mas alguém já tinha copiado, como aconteceu com muitos dos seus escritos.

O Doutor Macaco seria José Joaquim Ferreira de Moura que, na realidade, segundo contemporâneos, "tinha effectivamente uma physiognomia amacacada, e gaguejava algum tanto."
 
00000

Turba esfaimada, multidão canina,
Corja, que tem por deus ou Momo, ou Baccho,
Reina, e decreta nos covis de Caco
Ignorancia daqui, dalli rapina:

Colhe de alto systema e lei divina
Imaginario jus, com que encha o sacco;
Textos gagueja em vão Doutor macaco
Por ouro, que promette alma sovina:

Circulo umbroso de venaes pedantes,
Com torpe astucia de maligna zorra
Usurpa nome excelso, e graus flammantes:

Ora mijei na sucia, inda que eu morra
Corno, arrocho, bambu nos elephantes,
Cujo vulto é de anões, a tromba é porra!
 
00000

***Bocage Maçon
 

Autor: Jorge Morais
Nº págs: 164
Formato: 130x205 mm
Portugal

Resumo do que trata a obra: O «Irmão Lucrécio» da Loja Fortaleza: Manuel Maria de Barbosa du Bocage e o Iluminismo maçónico em Portugal no último quartel do século XVIII. Aproximação a um roteiro bibliográfico. 
 
Breve entrevista com o autor:
 
Bocage pertenceu à Maçonaria?

Pertenceu. Foi iniciado em Lisboa, entre 1795 e 1797, e fez parte dos quadros da Loja Fortaleza, uma das fundadoras do Grande Oriente Lusitano. Usava o nome simbólico “Lucrécio” (um vate latino do século I a.C.).

Esse facto era conhecido?

Sim, nos meios académicos. Mas quase ninguém se lhe refere fora das obras da especialidade. O grande público, de um modo geral, ignora.

Mas há provas?

Há documentos maçónicos, processos judiciais e muita correspondência da época a atestá-lo.

É esse o tema deste livro?

Este livro reúne, pela primeira vez na historiografia bocagiana, todos os elementos que documentam, explicam e enquadram o percurso maçónico de Bocage, inserindo-o na vida intelectual e política do seu tempo.

Não é um “romance histórico”?
 
Não. É um ensaio fundamentado e documentado. Remete para todas as fontes disponíveis e pretende ser um roteiro bibliográfico completo sobre o assunto.
 
É uma obra “pesada” para quem não é especialista?
 
Não. Está escrita numa linguagem viva e acessível a qualquer leitor. Retrata a Lisboa e o Portugal dos finais do século XIX, ocupa-se da prisão de Bocage e dos seus permanentes dissabores com a polícia e a censura, estuda a vida da Maçonaria portuguesa do período e detém-se com particular atenção nas referências maçónicas e espirituais contidas na obra do poeta.

Espirituais? Mas Bocage não era um boémio devasso e herege?
 
O anedotário nacional criou essa caricatura, sob a qual se escondem facetas espirituais, políticas e até religiosas menos conhecidas.
 
Tudo isso está documentado neste livro?
 
Está. E afirma-o António Valdemar, da Academia das Ciências, no Prefácio: “Eis o verdadeiro Bocage reabilitado por Jorge Morais, tão diferente do ímpio, do sacrílego, do blasfemo, que passou à posteridade com a imagem deturpada do ateu e marginal incorrigível”.

O AUTOR: Jornalista e escritor, Jorge Morais dedica-se à investigação de temas históricos. Na sua obra anterior (Com Permissão de Sua Majestade, ed. Via Occidentalis, 2005) estudou o papel da Maçonaria e da Família Real inglesa na instauração da República em Portugal. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário