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sábado, 24 de agosto de 2013

CHÁ DE CATUABA

CHÁ DE CATUABA
Jorge Nagado
 
Autor: Jorge Nagado
Recentemente, um amigo se referiu ao toró que desabara certa manhã sobre São Paulo, ou pelo menos na região do Ibirapuera e adjacências. Lembrei-me, então, de um curioso livro que adquiri, há muitos anos, mais precisamente em 1991. Na verdade um dicionário, A Língua Tupi na Geografia do Brasil, de autoria de Orlando Bordoni.

Ali aprendi que toró, na língua tupi, significa exatamente tempestade com ventania, ou no sentido que a utilizamos, uma tempestade, uma chuva muito forte.
 
Lembrei-me, então, de anotações que fiz, há muito tempo, colhidas daquele dicionário, sobre o significado de palavras em tupi, especialmente aquelas designando locais que conhecemos, ou palavras que usamos, ou ouvimos, no cotidiano. Transmito algumas.
 
Sempre todos ouvimos dizer que a região do Ibirapuera fora uma imensa capoeira. De fato, os índios chamavam o pedaço de Ibirapuera.
 
No centro da cidade, muitas vezes cruzamos o que todos conhecemos como o Vale do Anhangabaú, hoje uma larga e movimentada avenida que cobre o antigo rio de mesmo nome, o Anhangabaú, o  rio dos malefícios do diabo, porque o rio alagava e as águas empoçadas eram causas de doenças....
Indo mais longe, estamos em Cumbica, distrito do vizinho município de Guarulhos, onde foi inaugurado, em 1985,o então novo aeroporto de São Paulo. A escolha do local sofreu muitas críticas, inclusive do Estadão. Argumentava este que até os índios que habitaram o local sabiam da inconveniência da área para o empreendimento,  porque a designavam Cumbica, que quer dizer, exatamente, nuvem baixa ou nuvens baixas. Os índios notavam que a região era, constantemente, coberta por nevoeiro.

Ipiranga, como já era chamado o local onde foi proclamada a Independência do Brasil,   quer dizer rio vermelho. Assim os índios o chamavam possivelmente porque era um rio ou riacho de águas barrentas, em decorrência da cor avermelhada do solo do local, como sugere a patriótica pintura de Pedro Américo, retratando aquele fato histórico.

Imaginemos, agora, séculos atrás, os índios observando aquele rio majestoso, de águas límpidas serpenteando por entre florestas virgens e extensas várzeas, onde era abundante o peixe. Era o Tietê, rio grande. E, em determinada altura, o seu afluente, o Tamanduateí, rio de muitos meandros.

A região conhecida como Jabaquara, era o refúgio dos fujões.  Em alguma fonte, li que os escravos fugitivos lá se abrigavam.

Guarapiranga, garça avermelhada... Possivelmente naquela região, ao que parece de córregos e baixadas, havia muitas dessas aves. Hoje, a represa.
Jaguaré,  era o refugio de onças, com certeza, porque os nossos nativos sabiam que ali eram encontrados muitos destes felinos.

Mantiqueira, onde a chuva é contínua. À evidência, os nativos que habitaram a região, ou a baixada, observavam a neblina que cobria permanentemente aquela serra imensa, coberta de matas misteriosas.

Comento, ainda, que em nossa sociedade, às vezes estressante, pessoas mais sensíveis ficam jururu (melancólicas, tristonhas), preocupadas com o nhenhenhém (resmungo,  falatório interminável), expressão utilizada, certa ocasião, por FHC, lembram-se?

Finalmente, catuaba quer dizer homem forte. Creio que traduz o conhecimento dos nossos índios, do teor afrodisíaco daquela planta. 

Chá de catuaba...Tem sentido!
 
 
Escrito pelo autor em 07.12.12


Um comentário:

  1. O Tupi (e não Tupi-Guarani, já explicava Villas-Boas), está em todo canto, até no "tapa na cara" do indígena que há séculos o homem branco vem dando.

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