Como prevenção precoce, todo homem, entre 40 e 45 anos, deve consultar um urologista, mesmo não apresentando nenhum sintoma.
A palavra próstata vem do grego prostatis, que significa “o que está adiante”, no caso dos testículos. Trata-se de uma glândula do tamanho de uma noz, que produz um líquido, desde a adolescência do homem, juntando-se ao esperma e auxiliando a conduzir os espermatozoides até sua ejaculação, no final do orgasmo. Dentro dela, a testosterona, principal hormônio masculino, transforma-se em diidrotestosterona, responsável pelo controle do crescimento da próstata. Essa glândula foi descoberta pelo médico veneziano Niccolò Massa, em 1536.
Aos 20 anos, a glândula pesa 20 gramas. Com o passar dos anos, pode atingir 30 gramas ou pouco mais e ainda está dentro da normalidade. Sabe-se de casos de homens de mais de oitenta anos que nunca apresentaram aumento dessa glândula, nem outras alterações a ela relacionadas. São privilegiados pela natureza e pelas características dos seus genes, comprovando que nem todos os homens sofrem de doenças da próstata.
O exame de ultrassonografia informa se há aumento ou hiperplasia, que pode ser benigna (HPB) ou maligna. Para constatar essa diferença o urologista faz o toque retal, método mais fácil e rápido de determinar a alteração da próstata. O médico verifica se a próstata está lisa ou rugosa, aumentada ou não. Notando alterações, serão solicitados outros exames, como, por exemplo, o antígeno prostático específico, que é uma proteína conhecida desde 1980 como PSA. Esse exame é realizado nas dosagens livre e total.
Estudos elaborados em universidades americanas desde 2004, com biópsia da próstata em três mil voluntários comprovaram a existência de câncer em 15% deles, mesmo apresentando normalidade ao toque e níveis de PSA considerados normais.
Como apontam esses resultados, qualquer homem acima de 45 anos deve fazer um exame urológico anualmente. Se houver casos de câncer na família, esse exame pode ser antecipado já aos 40 anos. Os principais sintomas de alterações prostáticas estão relacionados com a eliminação da urina:
- urina com jato cada vez mais fraco;
- dificuldade ou demora para começar a urinar;
- necessidade de urinar com mais frequência;
- acordar à noite para urinar várias vezes;
- presença de sangue na urina.
Além da herança genética, que influencia em 10%, o meio ambiente, o sedentarismo, a alimentação muito rica em gorduras animais e o estilo de vida são considerados os principais fatores no surgimento do câncer de próstata.
É relativamente recente a aceitação de que o câncer de próstata é um dos mais graves - até o final de 1980 esse tipo de doença era considerado raro. Em 1941, o Dr. Charles Huggins, do Canadá, pesquisou e publicou sua tese, mostrando a relação entre o câncer de próstata e o hormônio testosterona, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina, em 1966.
No Brasil surgem 50 mil novos casos relatados por ano. É a segunda maior causa de câncer no homem, enquanto as lesões de pele continuam em primeiro lugar. A maior incidência ocorre na raça negra, o que está sendo estudado em todo o mundo para se descobrir o porquê.
Quanto aos vários tipos de tratamento, em primeiro lugar vem a conduta médica de avaliação trimestral ou semestral do paciente, de acordo com a graduação do tumor. Essa graduação está embasada na Escala de Gleason, nome do médico que a formulou. A graduação vai de 1 (quando as células cancerosas ainda apresentam contornos bem definidos) a 5 (quando essas células já estão aglomeradas em sua totalidade).
Outra conduta adotada é o tratamento com hormônios, por meio de injeções ou comprimidos, que podem reduzir a ação maléfica da testosterona. A contraindicação maior reside no fato de que quase cem por cento dos pacientes terão osteoporose e perda de libido. Outros tratamentos envolvem a quimioterapia, que pode reduzir a multiplicação celular. A braquioterapia consiste na implantação, na próstata, de pequenas cápsulas de iodo ou ouro radioativo. Esse tratamento é indicado apenas para tumores iniciais, com baixo risco.
Também pode ser realizada a radioterapia com bons resultados a curto prazo, ocorrendo 20% de recidiva. Hoje em dia ainda se considera como melhor tratamento a cirurgia com remoção total da próstata. Houve um grande avanço nos tipos de cirurgia, e a disfunção erétil permanente, que era um grande risco do pós-operatório, hoje ocorre em menor porcentagem.
Em 2008, no Congresso Americano de Oncologia em Chicago (EUA), foram apresentadas pesquisas, por médicos ingleses e americanos, com um novo medicamento – Abiraterona –que se mostrou eficaz em 50% dos casos com metástase. Esse medicamento continua em estudo para aprovação.
A maior expectativa, ainda em pesquisa, consiste num novo marcador no sangue, com a sigla EPCA-2, para detectar precocemente o câncer de próstata, com segurança 97% superior ao exame do PSA.
VITAMINA E e CÂNCER DE PRÓSTATA
Desde a década de 1990 foram divulgadas inúmeras pesquisas médicas associando Vitamina E a uma dieta mostrando que havia redução do risco de câncer de próstata em homens saudáveis a longo prazo. Porém, o seu mecanismo de ação ainda não foi comprovado.
Em 2004 um trabalho utilizando a vitamina E em ratos revelou que houve inibição do crescimento desse câncer, inferindo-se que a vitamina E poderia ser o agente principal na morte de células cancerosas da próstata em ratos. Outras pesquisas foram realizadas com associação de vitamina E e licopeno,mostrando que essa associação também aumentou o processo da morte das células cancerosas. O mecanismo dessa redução também nunca foi bem comprovado.
Até 2006 os médicos não especialistas e mesmo os urologistas, com base nesses estudos, prescreviam uma dose diária de Vitamina E de 400 a 600 unidades internacionais( UI ) como complemento alimentar, que poderia colaborar para evitar o aparecimento de câncer de próstata em seres humanos.
Em outubro de 2011, um grande estudo que se estendia por 10 anos mostrou uma nova realidade. Esta pesquisa foi publicada na prestigiada revista médica da Associação Médica Americana(JAMA). Foram realizados estudos em 35.533 homens com mais de 50 anos de idade em grandes centros nos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico, sem nenhuma suspeita de câncer de próstata. A conclusão foi surpreendente, porque ao contrário do que se sabia sobre os benefícios da Vitamina E e selênio, houve um aumento de 17% deste tipo de câncer. O trabalho é bem documentado com separação em 4 grupos de pacientes. O primeiro grupo só recebia Vitamina E.; o segundo grupo só recebia selênio; o terceiro grupo recebeu selênio e Vitamina E e o quarto grupo só placebo(substância inócua).
Já a partir de 2008, no andamento dessa pesquisa, os autores recomendaram a descontinuidade do suplemento de Vitamina E e selênio, por não ter ocorrido nenhum efeito protetor. O número de pacientes nos quais havia surgido câncer foi quase igual ao dos que tomaram o placebo.
Os autores não chegaram a uma conclusão sobre a causa que provocou o aparecimento do câncer de próstata nos homens que tomaram a Vitamina E.
Como prevenção primária, sem uso de Vitamina E, como produto químico ou outras suplementações, recomendamos que sempre se faça uma alimentação saudável, retirada diretamente da natureza e não acrescentar vitaminas de nenhum tipo, caso não haja indicação médica. Frutas, vegetais e legumes como mamão, azeitonas, tomate, beterraba e espinafre, se consumidas diariamente, contêm a quantidade necessária de Vitamina E para o organismo. Fica claro que outros alimentos com proteínas também são de uso normal, moderadamente.
Não esqueça de praticar exercícios físicos ou caminhadas diárias de 30 minutos por dia, não fumar, diminuir o peso, tratar hipertensão arterial e diabetes e fazer uma consulta, pelo menos por ano ao seu médico, mesmo que nada esteja sentindo, pois prevenir é melhor que remediar, como já se sabe há muito tempo.
Tratamento novo
O aumento benigno da próstata pode aparecer em mais de 50% dos homens a partir dos 50 anos e 80% dos homens com 80 anos ou mais. Até agora o tratamento consistia em uso de medicamentos receitados por urologista ou alguma cirurgia.
Em dezembro de 2013 o Conselho Federal de Medicina (CFM), emitiu o Parecer 29/13, para apresentar um novo procedimento que se denominou embolização das artérias da próstata. Este procedimento,no entanto, envolve um alto risco para a saúde dos pacientes. Só poderá ser feito por médicos que fizerem um curso especializado e aprovados em radiologia chamada intervencionista. Nunca deverá ser decidido como primeira escolha para tratamento da HPB. Também não é indicado em casos de câncer da próstata. Uma decisão definitiva para aprovação deste procedimento só poderá ser feita após 5 anos de acompanhamento dos pacientes que forem tratados.
Em explicação bem resumida, pode-se afirmar que um médico urologista intervencionista especializado para esta cirurgia, introduz um catéter na artéria femural para chegar até a próstata. São injetadas microesferas que impedirão a injeção de sangue, diminuindo desta maneira o tamanho da próstata, que é a finalidade deste procedimento.
Por enquanto, esta técnica está sendo testada em Hospitais-escola para melhor avaliação. É um tratamento caro e inacessível pelo SUS. Atualmente está sendo utilizada no Hospital das Clínicas de São Paulo para pacientes que apresentarem obstrução leve, como quando eles tiverem jato fraco da urina, ardência e urgência para urinar.
A Sociedade Brasileira de Urologia(SBU) só está recomendando a utilização desta técnica em casos experimentais, assim como já fizeram as Sociedades de Urologia da Austrália e Nova Zelândia.
A conclusão da SBU é a de que é necessário aguardar mais alguns anos e mais estudos para se comprovar a eficácia e segurança deste novo tratamento para todos os pacientes com Hiperplasia Benigna.
Dr. Luiz Freitag
Médico Geriatra