O maçom tem que caminhar uma longa
trajetória, para se considerar e ser na realidade um verdadeiro Iniciado.
Ele, para entrar na Ordem passará por duas
portas. Uma, a porta física do Templo onde o espera um estranho e intrigante
ritual, mas ao mesmo tempo belo, um verdadeiro teatro simbólico e sublimado.
É o dia do seu
recebimento formal na Ordem, que quando bem desempenhado pelos Iniciadores[1][1], a cerimônia o marcará, de forma
indelével na mente.
A segunda porta é
simbólica. Do ponto de vista mental, é um acesso através de uma pequena
fresta, isto é, uma pequena abertura que está fechada pelo Subconsciente.
Uma vez a venda cobrindo a visão, isto fará com que o Iniciando desperte e
aguce os outros órgãos dos sentidos, e ele então enxergará com os olhos da
mente e se colocará especialmente numa situação de pura introspecção que nada
mais é que uma verdadeira jornada interior e que para a grande maioria
dos Iniciandos é o reencontro, ou mesmo o primeiro encontro súbito, inesperado
e surpreendente com o seu duplo Eu, há muito tempo adormecido, talvez nunca
procurado, ou quem sabe ele nem soubesse da existência de um duplo estado de
sua consciência. O
profano terá que, justamente auxiliado por uma técnica iniciática perfeita e
bem desempenhada, usando-se uma ritualística bastante eficiente fluente e
fácil, franquear esta barreira, e passar por ela, mas para isso ele terá que se
sentir humilde, pequeno, diminuto, ínfimo. A Iniciação neste primeiro dia de
contato com a Maçonaria se consubstancia neste detalhe. Será apenas a
conscientização de que existe este outro estado do Ser, um outro estado da
mente.
É necessário frisar que
não haverá com esta conscientização a descoberta instantânea de todo o
conhecimento humano, ou maçônico, dos mistérios ou segredos, mas tão somente a
auto revelação de sua consciência dupla, tomando-se conhecimento que existe em
cada um de nós um outro EU.
Este aspecto é apenas o
começo. Esta revelação não é tudo. A verdadeira Iniciação se processará durante
toda a vida através do estudo, da pesquisa, da meditação, da dedução, do
conhecimento adquirido corretamente, e do auto aperfeiçoamento. Ela será
praticamente inatingível em sua totalidade, porque o Homem jamais atingirá a
perfeição. Ele tenderá a chegar perto, e quanto mais perto chegar, mais poderá
ser considerado um Iniciado.
Já na própria
Antigüidade o conceito de Iniciação foi se atualizando e se transformando numa
forma de conhecimento gradativo pelo qual o Iniciando receberá inicialmente
instruções através de mensagens dogmáticas, ainda que hipotéticas, ele a partir
delas, desenvolverá, por seus próprios meios, a sua iluminação interior, das
quais apenas ele só possúe a semente ou germe.
Se considerarmos que o maçom tem duas entradas, para ele permanecer na
Ordem ele terá didaticamente duas saídas para escolher qual a delas ela
adotará.
Ele escolherá
aquela do seu aprimoramento pessoal, ou então escolherá aquela que identifica
apenas a sua passagem física pela Maçonaria.
Ele terá que escolher a opção
correta e isso será tão somente uma decisão sua.
O grande mérito seu, de
sua mente, será pessoal, intransferível, ninguém conseguirá lhe ensinar, ele
aprenderá sozinho por qual das duas saídas ele optará.
Grande parte dos maçons
não percebe ou não querem perceber que estão tendo a grande opção enquanto
estão passando pelos graus simbólicos, aliás, graus estes que constituem a
verdadeira Maçonaria. Infelizmente, estes maçons constituem a grande
maioria, e embevecidos acham que a Ordem é festa, banquetes, auxilio mútuo,
graus,política de lojas, fachada para outras atividades, belos aventais,
distintivos na lapela, e outras tantas dicotomias.
Que
são na verdade, verdadeiros subprodutos ou complementos que a Ordem coloca a
disposição de todos. Alguns
até acabam descobrindo através dos anos, que tudo isso não está coerente, não
está certo. Mas acham que é tarde demais para mudar. Não têm coragem.
Continuarão inertes e coniventes, pois já estão um tanto quanto idosos, e
esperam que os maçons mais jovens mudem tal situação. Puro engano. Um
verdadeiro maçom jamais poderá se considerar idoso, mas sim experiente humilde
e sábio, e ele terá a obrigação de ter a ousadia e firmeza de mudar o que pode
e deve ser mudado. Esta é em síntese, a primeira saída que normalmente a
maioria dos maçons escolhem ou preferem.
Mas existem aqueles que descobrem durante a sua vivência maçônica que há algo
mais profundo, mais abrangente por trás das mensagens dos rituais, ou das
migalhas maçônicas que as Lojas oferecem em matéria de ensinamentos, que toda
aquela ganância em torno do poder maçônico[2][2], da bulimia maçônica também
conhecida por fome exagerada de graus, sem conhecer a fundo o grau em que se
está colado; da filantropia amadora e ingênua mal feita, da fraternidade
hipócrita que alguns são hábeis em aplicá-la enganando outros inocentes e bons
Irmãos, da falta de instruções, alem de outras inúmeras razões, enfim, decidem
mudar, porque descobriram a ESSÊNCIA da natureza da Entidade para qual foram
chamados a integrá-la e ao entenderem a sua profundidade, mudam completamente
seu comportamento mental.
Passam a entendê-la como uma Escola
de Vida, descobrem que sua principal função é político-social, e que eles serão
consequentemente os construtores da futura sociedade mundial, que terão que
amadurecer como cidadãos, que terão que ser embriões catalisadores dos
movimentos de vanguarda, atuando como aglutinadores de idéias, de sonhos que se
tornarão realidades, não responsabilizando nem Lojas e nem Irmãos com relação a
este compromisso que será só deles, pois eles serão o fermento que provocará os
fenômenos sociais e que, tão somente a instrospecção, a meditação, a análise
exata, o raciocínio transparente e o estudo eficiente e correto da Filosofia,
da História, do Simbolismo do Ritualismo e das coisas pertinentes à Ordem lhes
darão o poder do conhecimento, o qual poderá ser repassado ou dividido com os
demais adeptos, mas ninguém lhes tirará esta riqueza intelectual e
consequentemente neste caminho deslumbrarão toda a espiritualidade que este
estado mental encerra.
Descobriram simplesmente a ESSÊNCIA porque acabaram de despertar para um
mundo novo...
Quando chegarem nesta fase mental, o autoconhecimento e a
espiritualidade adquiridos farão com que estes Irmãos mesmo que não se
apercebam, e se perceberem não deixarão que os outros notem, já estarão alguns
passos à frente deles.
Considera-se que eles
avançando em seus progressos penetrarão nas profundezas do Subconsciente ou
Inconsicente, alcançarão a Consciência Cósmica e, indo alem, chegarão á
Superconsciência que é nada mais que o próprio GADU mais justo, bom, racional e
espiritual de um livre pensador.
Uma verdadeira transformação ocorrerá na
mente quando se perceberá uma sensação que não é de insatisfação com esta
humanidade imperfeita, ela é muito mais um sentimento de calma, que mais
parecerá uma percepção de humildade de bondade e compreensão, que será mais uma
entrega de si mesmo, a uma força maior que, embora desconhecida objetivamente,
sentem-na presente. E
assim conhecerão a expansão do campo da consciência, e verão que as coisas se
tornam mais belas, a vida tem mais sentido, quase não ficam aborrecidos ou
irritados, porque este estado especial, desviará sua agressividade instintiva
para algo mais construtivo. Este autoconhecimento é considerado como uma
verdadeira catarse, limpeza ou purificação da mente, porque ele mostra,
estabelece e orienta a força capaz de criar, reprogramar e incentivar a
condução da própria vida. Neste momento o maçom estará preparado para ser um
verdadeiro líder e também estará no caminho seguro em direção à sua verdadeira
Iniciação Real.
Para
se chegar a este estado mental, percorrer-se-á um caminho tortuoso, difícil,
gratificante, mas totalmente individual, pois somente o adepto sem auxilio de
quem quer que seja, o alcançará. Este é o autêntico segredo maçônico. Os
sinais, palavras toques rituais e etc., não são em realidade os verdadeiros
segredos. O Irmão que chegar a esta situação mental não terá condições, nem que
queira de transmiti-la, descreve-la ou conceitua-la. Não conseguirá. Será
impossível. É inexprimível. É um estado da alma que não estará ao alcance de ninguém,
a não ser tão somente de sua psique. Será só seu. É o mesmo mecanismo que se
observa nas transformações mentais dos gurús, dos santos, dos chamãs, dos
jejuadores, de alguns paranormais e dos Grandes Iniciados.
Estará em estado de expansão da mente, em
ondas cerebrais “alpha” ou “theta”. Acresça-se que não é só a Maçonaria que realiza Iniciações. As grandes
escolas iniciáticas da Antigüidade, das quais somos herdeiros, e mesmo outras
entidades iniciáticas do presente, basicamente sempre utilizaram técnicas muito
semelhantes.
Temos que ressaltar que
nosso Inconsciente sempre busca satisfazer nossos desejos instintivos, mas eles
são bloqueados por outra parte da mente chamada de Superego segundo Freud.
Nossa civilização incide neste fato, onde os conflitos deste bloqueio geram a
infelicidade do homem. O Iniciado deverá romper esta barreira. É uma bela e
fantástica aventura, esta ruptura. Este é o ideal superior que ele se proporá a
realizar. A sua mente deverá se abrir. Eis a sua tarefa. A trajetória
percorrida para se chegar a este ideal superior é muito linda e rica em
sabedoria, por causa das observações, incidentes de percurso e das experiências
vividas para se chegar lá. Quantas lindas verdades ocultas serão descobertas a
caminho.. O percurso será tão importante quanto o ideal a ser atingido. É uma
linda e longa viagem para dentro de SI MESMO.
Hercule Spoladore-
Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil
[1][1] Bom desempenho significa, que o Venerável, e todos os Irmãos que forem
ler algum trecho do Ritual, o façam com clareza, com boa dicção, palavras bem
pronunciadas, para que todos ouçam, sem tartamudear (gaguejar) e que os
procedimentos tenham sido devidamente muito bem treinados. Não se devem dar
trotes nos candidatos, aliás, costume grosseiro, medieval, desumano que ainda
persiste, e que bloqueará ainda mais a mente do neófito.
[2][2] O poder verdadeiro e
respeitado dos dirigentes advém tão somente do carisma, bondade, sabedoria,
polidez, educação já que nenhum maçom é obrigado a obedecer a dirigentes
déspotas, e impositivos que não conheçam os princípios básicos da democracia e
que o “poder” lhes tenha “subido à cabeça”. Um Grão-Mestre ou um Venerável não
governarão seu povo por decretos, leis, por imposição, a grito ou através de
tramas e perseguições, só governarão pela bondade de seu coração...
Enviado pelo Ir.'. Danilo Brussolo